Jorge Palma

Vivo em Lisboa

Jorge Palma


Abri a janela de par em par 
A vista é cortada pelo edifício em frente do meu 
O ruído da rua é, por vezes, difícil de suportar 
Mas assim sempre vai entrando algum ar 

Vivo em Lisboa 
Tu sabes bem quem eu sou 
Eu sou aquele com quem tu te cruzas 
Numa esquina qualquer 
E, às vezes, também tomo comprimidos 
Para conseguir adormecer 

Vivo em Lisboa 
Tu conheces-me bem 
Também eu tenho um lugar reservado 
Neste eterno vaivém 
Sou mais um cartão numerado 
Que a cidade retem 

Como eu gostava de um dia abraçar 
Aquela actriz que acabei de ver na televisão 
Dava tudo o que tenho só para ter um cantinho no seu coração 
Mas as estrelas nunca sorriem aos da minha condição 

Vivo em Lisboa 
Tu sabes bem quem eu sou 
Eu sou aquele com quem tu te cruzas 
Numa esquina qualquer 
E, às vezes, também tomo comprimidos 
Para conseguir adormecer 

Vivo em Lisboa 
Tu conheces-me bem 
Também eu tenho um lugar reservado 
Neste eterno vaivém 
Sou mais um cartão numerado 
Que a cidade retem 

Saí do cinema tentando imitar 
O modo de andar e a maneira de olhar do actor principal 
Quando entrei no autocarro 
Evaporou-se-me o sonho e caí em mim 
As coisas são sempre tão diferentes na vida real 

Vivo em Lisboa 
Tu sabes bem quem eu sou 
Eu sou aquele com quem tu te cruzas 
Numa esquina qualquer 
E, às vezes, também tomo comprimidos 
Para conseguir adormecer 

Vivo em Lisboa 
Tu conheces-me bem 
Também eu tenho um lugar reservado 
Neste eterno vaivém 
Sou mais um cartão numerado 
Que a cidade retem 

Às vezes sou levado a pensar 
Pode haver um engano nessa coisa da distribuição 
Passo os dias inteiros no trabalho e mal ganho para comer 
Mas isto é um problema meu 
E eu devo ser capaz de o resolver 

Vivo em Lisboa 
Tu sabes bem quem eu sou 
Sou aquele com quem tu te cruzas 
Numa esquina qualquer 
E, às vezes, também tomo comprimidos ...