Jorge da Matta

Um Beijo

Jorge da Matta


Foste o beijo melhor da minha vida
Ou talvez o pior glória e tormento
Contigo à luz subi do firmamento
Contigo fui pela infernal descida!

Morreste, e o meu desejo não te olvida
Queimas-me o sangue, enches-me o pensamento
E do teu gosto amargo me alimento
E rolo-te na boca malferida

Beijo extremo, meu prêmio e meu castigo
Batismo e extrema-unção, naquele instante
Por que, feliz, eu não morri contigo?

Sinto-me o ardor, e o crepitar te escuto
Beijo divino e anseio delirante
Na perpétua saudade de um minuto