Fiz preces secretas aos deuses pelo seu corpo, todos os dias O entardecer da sacada do paço Refiz milimetricamente todos os nossos passos Cada centímetro do teu corpo em outros Falei as mesmas coisas enquanto fodia Reinventei o cheiro do teu sexo Destruí tua bondade nas maiúsculas noites do recife Corrompi o desejo dos homens, e em sua pureza um escarro E bebi da fonte da água sagrada Ovos germinaram em meu ventre, como uma serpente ancestral O abandono foi o meu oráculo Suei esse desejo como febre desatinada, incontáveis dias Matei nossos filhos Tentei te reescrever já que não consegui te desacender Fiz preces secretas aos deuses, todos os dias Dentro do teu corpo eu te devoro Como um demônio no deserto Criança mítica Pelos teus caminhos eu sopro Maconha dentro da tua boca Minha língua se desfaz no sal do teu corpo Te devoro e te deserto Danço a dança dos antepassados no teu ouvido Que é o ouvido de todos Sopro desejo no ouvido do recife E a cidade me devora E os demônios do nosso amor Irão florescer e criar olhos Como olhos de gente E mãos e línguas, como línguas de gente E dentes como dentes de gente E mentiras como mentiras de gente E se reproduzirão num palíndromo, circular, infinito E falos e úteros como úteros de gente Sem recordação do nosso amor Perplexos Com suas bocas abertas para a noite Repetindo um canto secular Desejo Nos cegue Nos guie Nos proteja Até o fim dos tempos