Eu nasci num recanto feliz Bem distante da povoação Foi ali que eu vivi muitos anos Com papai, mamãe e os irmãos Nossa casa era uma casa grande Na encosta de um espigão Um cercado pra apartar bezerro E ao lado um grande mangueirão No quintal tinha um forno de lenha E um pomar onde as aves cantavam Um coberto pra guardar o pilão E as traias que papai usava De manhã eu ia no paiol Um espiga de milho eu pegava Debulhava e jogava no chão Num instante as galinhas juntavam Nosso carro de boi conservado Quatro juntas de bois de primeira Quatro cangas, dezesseis cansis Encostados no pé da figueira Todo sábado eu ia na vila Fazer compras para semana inteira O papai ia gritando com os bois Eu na frente ia abrindo as porteiras Nosso sítio que era pequeno Pelas grandes fazendas cercado Precisamos vender a propriedade Para um grande criador de gado E partimos pra a cidade grande A saudade partiu ao meu lado A lavoura virou colonião E acabou-se o meu reino encantado Hoje ali só existem três coisas Que o tempo ainda não deu fim A tapera velha desabada E a figueira acenando pra mim E por último marcou saudade De um tempo bom que já se foi Esquecido em baixo da figueira Nosso velho carro de boi