João Marcos Kelbouscas

A Filha do Bolicheiro

João Marcos Kelbouscas


Buenas tarde, bolicheiro, me trás uma bem gelada
Fiz duas horas de estrada num trotezito chasqueiro
Pois meu Tordilho estradeiro, pra tranquear, não tem paciência
Pra onde eu me largo é querência, sempre disposto e faceiro

Vim rever uma guria que, do beijo, eu tive a prova
Morena da Vila Nova, bonita e trabalhadeira
Diz que a mãe é cozinheira e o pai dela é bolicheiro
E eu sou um simples gaiteiro, crioulo lá da fronteira
Diz que a mãe é cozinheira e o pai dela é bolicheiro
E eu sou um simples gaiteiro, crioulo lá da fronteira

Se ele soubesse, o que seria?
Será que faria gosto ou que embrabeceria?
Se ele soubesse, quem sabe, um dia
Que a filha do bolicheiro é a dele e ele não sabia

Eu tapeei bem meu sombreiro, bota com cano puxado
Lenço no pescoço atado e, pra visitar a China
Jaleco da Gabardine que só em Rivera se acha
Da mesma cor da bombacha, feitio da Dona Norina

Me vê umas bala' de mal que é pra me adoçar a boca
Que, embora minha plata é pouca, o que eu tenho me diverte
Pra quem minha vida enterte' e, a carinhos, me ata
Vou levar um par de alpargata trinta e seis ou trinta e sete
Pra quem minha vida enterte' e, a carinhos, me ata
Vou levar um par de alpargata trinta e seis ou trinta e sete

Se ele soubesse, o que seria?
Será que faria gosto ou que embrabeceria?
Se ele soubesse, quem sabe, um dia
Que a filha do bolicheiro é a dele e ele não sabia