O cego olhar do Narciso De sonhos tão desparelhos Não vê que o tempo preciso Envelheceu os espelhos Então procura incontido No aço frio sua calma Sem ver que está refletido No próprio avesso da alma A vida sempre repete Uma ironia em seus trilhos E o velho espelho reflete A juventude dos filhos O tempo pesa nas costas Lhe dando exemplos também Um novo espelho que mostra As fundas rugas que tem Assim o tempo lhe espreita Mandando invernos ao vê-lo E quanto menos aceita Mais perde a cor dos cabelos O olhar se faz insensato Talvez perdido de frio Busca se ver nos retratos Deixando o espelho vazio Tal fosse um poço sentido Que mostra o homem com sede Um outro mundo perdido Que vive atrás da parede O espelho guarda os lamentos Que o homem velho lhe faz Numa janela que o tempo Não abre nunca pra trás