Eu não direi de ti, ausência ardente A falta que a guitarra ainda chora O ocaso que ficou dentro da gente Naquela noite triste sem aurora Eu só direi de ti a lira inquieta Que o vento vem tanger nas casuarinas O rio que em murmúrios desatina Pranteando o pajador na pampa aberta Todo o violão se fez um ataúde Mas ressuscitas dessa arcádia morta Pra por cadência nas sonatas rudes Dos que o destino não abriu a porta Alguns romeiros te acendem velas Em rezas xucras de vocabulário Outros se tornam teus fiéis templários Nas pulperías onde te revelas E quando chove ausência nos meus olhos Nas longas madrugadas da campanha Sozinho, com a guitarra sobre o colo É sempre um verso teu que me acompanha A ausência que deixaste é ilusória Não sei se por encanto ou por magia Agora, tu também és poesia Translúcida em sonora trajetória Pois te declamam nos confins rurais O peão humilde pra ninar a prenda O piá gaúcho pra cantar legenda E os cataventos pelos temporais Quem irá herdar o teu idioma Rebanho que só tu apacentavas? Em cânticos de bailes e de domas Detinhas o domínio das palavras Cantor das aflições dos arrabaldes Em tua tessitura missioneira Sabias dos acordes das goteiras Cantando vendaval dentro dos baldes