Todas as tardes eu brincava Com o meu primo Zezinho Sabugos viravam bois Fazíamos bons carrinhos Abaixo de onde brincávamos Tinha um carreador Mais embaixo tinha um lago E a casa do vovô A casa era testemunha De um tempo bem vivido Meu avô era um mulato Muito forte e destemido ai, ai Nós tínhamos grande orgulho Deste nosso velho amigo E as histórias que contava Eu trago sempre comigo Quando ele era criança Por ali também brincou Construindo seus brinquedos Junto ao carreador Seu amigo inseparável Era o filho do patrão Uma infância interiorana Cheia de recordação ai, ai Em uma tarde qualquer Estavam eles brincando Quando um carro de boi Por ali estava passando E o filho do patrão No seu ato não pensou Pulou em cima da carga Porém se descontrolou Caindo do outro lado Do barranco escorregou Foi deslizando até o lago Num instante ele afundou ai, ai Lá na casa da fazenda Vendo tudo inconformado Já se via o patrão Gritando desesperado Pedia socorro ao filho Que estava sendo afogado E num rápido reflexo Sem pensar na sua sorte Aquele bravo menino Usando seu braço forte Salvou com bravura o amigo Da dor fria da morte ai, ai Quando viu o filho vivo Disse o pai ao menino Com essa nobre atitude Você muda o seu destino Já não será empregado Eu te darei proteção Você será o meu filho E o meu filho teu irmão Vou construir uma casa Para sempre te abrigar E quando olharmos nela Nesse dia vou lembrar ai, ai E depois de muito tempo Que essa história se passou Me lembro e tenho saudade Do meu querido vovô Ele foi morar com Deus Sua alegria nos deixou Quando vejo essa casa Sei que o herói aqui morou Quantas vezes eu brinquei No lago e no carreador São lembranças de um passado Que o tempo não apagou ai, ai