João Afonso

Eu Não Sei Que Faz o Sol

João Afonso


Eu não sei que faz o sol 
que não dá na minha rua 
hei-de me vestir de branco 
que de branco anda a lua 

Não vi ribeira sem água 
nem praça sem pelourinho 
nem donzelas sem amores 
nem padres sem beber vinho 

Lindos olhos de pau preto 
nariz de pena aparada 
dentes de letra miúda 
boca de carta cerrada 

Lindos olhos tem a cobra 
quando olha de repente 
mais vale um bom desengano 
que andar enganado sempre