Joana Rosa

Adamastor (part. GNTK)

Joana Rosa


Eu vi a mata ser queimada com todo o rancor
Vi famílias desoladas sem nada mas dor
E nos olhos da desgraça vi o adamastor, o adamastor

Por quê?
Pergunta a toda hora quem chora pela herança que outrora não foi lembrança
E agora na esperança de voltar a ver erguida a sua vida
Consumida pelas chamas, chama por quem dê guarida
Casas em casos arrepiantes, nas brasas fulminantes por causas alucinantes
Abraço os manifestantes, à caça desses mutantes
Deixando os lenços brancos, aos nossos governantes

Agora são tantos os empresários com cursos de incendiários
Sem custos, mas com preçário
Concursos de milionários a fazer de nós otários
Que falam a nossa língua com cuspo no dicionário

Um fogo armado pra um povo que desarmado
Lutou pelo legado por Dom Dinis deixado
Então venha agora o sapatinho envernizado
Pisar o nosso legado no terreno infernizado

Não sei porque é que nos querem tirar a voz
O que querem de nós

Agora vejo equipas de reportagens montagens
Sentimentais que estas desgraças nos trazem com falsas abordagens
Por quem cria as nossas leis em mensagens
Mais vazias do que embalagens de Lays
Deixo uma homenagem à coragem deste povo
Que usavam as próprias lágrimas só pra apagar fogo
Vendo as vidas destruídas neste jogo
Que pede sempre perdes pra recomeçares de novo

Proclamados de come e cala
Numa sala onde fatos de gala falam em factos que calam
Mas só calam quem tem palas ou pactos que valem
Bolsos mais cheios do que intactos sacos de pólen
Nós vamos renascer das cinzas tipo fênix
Ouçam o que eu disse, tenho toda a fé nisso
Porque esta fama de país conquistador
Já em tempos derrotou um adamastor

Da espada de Afonso Henriques, à enxada do zé povinho
Marchar contra esses ricos que acabam com este cantinho
E sabem o que é mais triste é ver que pelo caminho
Ficaram mais do que contos que os contos de verde pinho

Mas sempre combatentes ao cheiro que fumo emana
Somos nós o orgulho desta a raça lusitana
E engana-se quem nos chama de cobardes na tristeza
Que eu bato de frente em quem bate à nossa mãe natureza

Não sei porque é que nos querem tirar a voz
O que querem de nós

Eu vi a mata ser queimada com todo o rancor
Vi famílias desoladas sem nada mas dor
E nos olhos da desgraça vi o adamastor, o adamastor