Jayme Caetano Braun

Está na hora

Jayme Caetano Braun


Eu penso enquanto mateio, 
e mateando a gente pensa,
será que morreu a crença 
da indiada do pastoreio?
Com três séculos e meio, 
fazendo pátria e querência,
ou será que a incompetência 
de uns e a má fé de outros
tiraram de índios potros até 
o ar de independência!

Aprendi na mocidade, 
algo que ninguém me tira,
que não há meia mentira, 
tampouco meia verdade
e nem meia liberdade, 
pois não pode ser cortada,
quem acha o rumo da aguada, 
não morre de sede a míngua,
e quem fala meia língua, 
termina dizendo nada!

Já é hora da indiada, 
que a velha capitania,
dentro da democracia, 
voltasse o que foi outrora,
gaúchos de ontem, agora, 
sempre o mesmo sentinela,
a pátria verde-amarela 
nasceu aqui nestes planos,
e os velhos taipas pampeanos 
nunca se apartaram dela!

Meu grito de revolta 
neste descontrole imenso,
mas um alerta ao bom senso, 
e é sempre a melhor escolta,
para que o país de volta, 
por si só se siga sozinho,
o patrocínio daninho, de fora, 
nós não queremos,
deus permita, superemos, 
'solitos' nossos caminhos.

Dentro da filosofia a qual 
sempre nos filiamos
quando pátria nos tornamos 
na essência e na ideologia,
o gaúcho de hoje em dia, 
tem a mesma dimensão
e guardada a dimensão 
entre presente e passado,
é o mesmo pastor soldado, 
do início da formação.

Se as distâncias encolheram, 
as inquietudes ficaram
se os tempos se transformaram, 
as ânsias permaneceram,
e os centauros não morreram, 
no sentir e no pensar,
o impulso de gauderear, 
latente se transfigura,
na defesa da cultura 
que ninguém pode esmagar.

Aí está o gaúcho atual, 
muito mais do que pilchado,
alerta e conscientizado 
de todo o seu potencial,
a transformação social foi feita, 
ele permanece,
tem consciência, não esquece, 
conhece a luz que procura
e sabe que a noite escura, 
termina quando amanhece!

É hora depois da espera, 
que haja uma volta por cima,
o povo, matéria prima, 
merece uma primavera,
e os que manejam a esfera 
encontrem uma maneira
p'ra que a nação brasileira, 
não vá a tranco e solavanco,
pulando de banco em banco, 
como coruja em tronqueira.