O tempo vai repontando O meu destino pagão Vou tenteando o chimarrão Da madrugada clareando Enquanto escuto estralando O velho brasedo vivo Nesse ritual primitivo Sempre esperando, esperando... É a sina do tapejara Nós somos herdeiros dela Bombear a barra amarela Do dia quando se aclara Sentir que a mente dispara Nos rumos que o tempo traça Eu me tapo de fumaça E olho o tempo veterano Entra ano e passa ano Ele fica a gente passa Que viu o tempo passar Há muita gente que pensa Mas é grande a diferença Ele não sai do lugar A gente que vive a andar Como quem cumpre um ritual É o destino do mortal É o caminho dos mortais Andar e andar nada mais Contra o tempo, sempre igual. Tempo é alguém que permanece Misterioso impenetrável Num outro plano imutável Que o destino desconhece Por isso a gente envelhece Sem ver como envelheceu Quando sente aconteceu E depois de acontecido Fala de um tempo perdido Que a rigor nunca foi seu. Pensamento complicado Do índio que chimarreia Bombeando na volta e meia Do presente no passado Depois sigo ensimesmado Mateando sempre na espera O fim da estrada é a tapera O não se sabe do eterno Mas a esperança do inverno É a volta da primavera. Os sonhos são estações Em nossa mente de humanos Que muitas vezes profanos Buscamos compensações Na realidade as razões Onde encontramos saída Nessa carreira perdida Que contra o tempo corremos Já que, a rigor, não sabemos O que haverá além da vida. Dentro das filosofias Dos confúcios galponeiros Domadores, carreteiros Que escutei nas noites frias Acho que a fieira dos dias Não vale a pena contar E chego mesmo a pensar Olhando o brasedo perto Que a vida é um crédito aberto Que é preciso utilizar. Guardar dias pro futuro É sempre a grande tolice O juro é sempre a velhice E de que adiante este juro Se ao índio mais queixo duro O tempo amansa no assédio Gastar é o melhor remédio No repecho e na descida Porque na conta da vida Não adianta saldo médio!