Velha cordeona contrabandeada de longe Sentaste praça nos galpões da minha querência Amanunciada pelas mãos de velhos mestres Que perpetuaram a tua xucra existência Quando abro o fole desta cordeona campeira Parindo notas que se espalham com o vento Brotando versos xucros como esta milonga Tu és teimosa, resistindo ao novo tempo! Cordeona amiga, és como rosto de china Que acariciado, sempre encontrou guarida Quando a saudade trança tentos de amargura Embuçalando velhos recuerdos da vida Nas noites frias, em roda de canha e mate Contos e causos onde o peão cruza com a morte Xucra cordeona, com teus acordes campeiros Enches a vida de quem não tem outra sorte Às vezes quando tironeio esta cordeona Entre meus dedos canto a lida em melodia Domando potros ou escorando algum bochincho Xucros gaitaços que brotam com galhardia Mas seu eu pudesse enfrenar o meu destino Partir a trote pro derradeiro sogaço Os que partiram me encontrariam cantando Com esta cordeona corcoveando nos meus braços Hoje, teu nome, xucra cordeona que eu canto Trago a cabresto por onde quer que eu ande De pago em pago, prego sempre a tua reza Tu te tornaste parte viva do Rio Grande Por isso o dia em que chegar o meu reponte E o Patrão Santo quiser que eu vire saudade Xucra Cordeona, tu pode esperar, certeza Que eu te reponto pra o galpão da eternidade