Jari Terres

Por Estas Chuvas de Julho

Jari Terres


Ando de poncho encharcado por essas chuvas de julho
E, ainda, escuto o barulho das águas crescendo a sanga
Faz pouco, a várzea estendeu-se pra lá do arame do meio
E o passo ficou bem feio de não cruzar os bois da canga

De novo, o tempo armou-se, escureceu a banda oeste
Embora, pouco nos reste, não há de esperar por nada
Estender poncho e pelego, abrir porteira e alambrado
Pra não tirar gado a nado de algum rincão da invernada

No outro ano que a enchente ponteou a várzea do fundo
Parecia até que o mundo descia junto com ela
Quem tava quieto nas casa', mateando à tarde em floreio
Avistava o arroio cheio bombeando pela janela

De longe, até meus Gateados andam Lobunos por conta
Da chuva que lhes reponta e bota os mansos na forma
Beirando os fios do alambrado, perfilados um por um
No mesmo instinto comum do tempo que dita as normas

Até o galpão que garante, sempre, os desmandos do céu
Anda sentindo o tropéu quando a chuva é galopeada
Forceja a quincha do norte na turumbamba de patas
Mas não se rende às bravatas, é feito de alma e morada

E o dia, mais uma vez, batendo água, se estende
E a gente, então, compreende que a própria vida é assim
Se vai o tempo por conta, por onde o outro deságua
E o poncho ainda guarda as águas que o julho tinha pra mim

E o dia, mais uma vez, batendo água, se estende
E a gente, então, compreende que a própria vida é assim
Se vai o tempo por conta, por onde o outro deságua
E o poncho ainda guarda as águas que o julho tinha pra mim