Jairo Lambari Fernandes

Regalo a Um Trançador

Jairo Lambari Fernandes


Desquinando um tento baio
O minuano assobiando
Ouvi um buenas parceiro
Estranhei que alguém chegasse
Sem que o cachorro anunciasse
Se apeou e foi entrando

Os ombros meio curvados de quem a vida domara
E que nunca mais trançara
Mãos domadas pela vida
Apertei com força os calos
Juntas grossas doloridas

Só vim pra tomar um mate
E fazer uma encomenda
Quanto vale um aparelho
Pra cabeça da gateada
Sem argolas, sem floreios
Que caiba nos meus trocados

O preço é da minha alçada
Entrego no fim do inverno
Um trançador já no cerno
Que o tempo vinha judiando
Sorveu o mate de estrivo
E se mandou a la cria

Pelei um couro brasino
Flor cor de cedro queimado
Que realçasse o prateado das argolas mais bonitas
Bombas em ouro bordadas
Por espanholas malditas

Nas tiras das nazarenas
Lonca fina trabalhada
A cabeçada de doze
Oito, cabresto e bucal
Que embuçalasse um bagual
Não uma égua cansada

As rédeas de trança achar
Pra diferenciar do laço
Nas palmas cravada a marca
Já sem cabo enferrujada
Um dia a velha gateada
Se queimou naquela marca

Com os olhos marejados
Vaidoso entreguei a obra
Tinha mais dele na trança
Do que nas minhas andanças
Me ensinara aquela arte
De trançador não se cobra

De trançador não se cobra.