Morei numa pensão Ali na rua Aurora Meu Deus, Nossa Senhora Que vida que levei Dormia num beliche Entre pulgas e mosquitos Eu achava até bonito O lugar que arranjei Quando alguém me perguntava Onde é que você mora? Eu dizia sem demora Moro na Augusta, bicho! Ou então não respondia Para não dizer a verdade Porque na realidade Era na boca do lixo Ai, ai, que vida apertada eu tinha Meu almoço e meu jantar Era brisa com farinha Meu almoço e meu jantar Era brisa com farinha Eu tenho um amigo Que mora na Paulista Ele é um grande artista De fama e projeção Ele prometeu ajuda E por ela eu esperei Finalmente eu mudei Fui morar no minhocão Lá no ponto do café Arouche com a Aurora Todo dia e toda hora Eu ficava esperando Alguém pra me levar Num show de circo ou cinema Eu vivia num dilema Com a barriga roncando Ai, ai, que vida apertada eu tinha Meu almoço e meu jantar Era brisa com farinha Meu almoço e meu jantar Era brisa com farinha De tanto andar a pé Até esfolei meu pé Ipiranga, São João Pensando num mustang A noite eu sonhava E morria de desejo Mas era um percevejo Que sugava o meu sangue Fui ao Rio de Janeiro E também nada deu certo Fui até Belo Horizonte Belém, São Salvador Andei o Brasil inteiro Mas valeu correr o risco Consegui gravar um disco Deixei de ser sofredor Ai, ai, que vida apertada eu tinha Meu almoço e meu jantar Era brisa com farinha Meu almoço e meu jantar Era brisa com farinha Meu almoço e meu jantar Era brisa com farinha