No Sertão quando o solo está enxuto Sofrem dois elementos de uma vez Falta líquido pra língua de uma rês Chovem gotas dos olhos do matuto Ser humano padece, sofre o bruto O segundo bem mais que o primeiro Se dos olhos caísse um aguaceiro O problema estaria saneado No Sertão Falta água para o gado Porém sobra nos olhos do vaqueiro É assim lá na terra sertaneja Bicho e gente sofrendo a mesma mágoa No olhar do vaqueiro sobra água Mas a bomba celeste não despeja Quem aboia e campeia não deseja Ver o gado com sede o ano inteiro Nem o gado quer ver seu companheiro Em um rio de lágrimas sufocado No sertão falta água para o gado Porém sobra nos olhos do vaqueiro Dá um nó emotivo na garganta quando a época da chuva vai embora Sobra lágrima nos olhos de quem chora Falta água na cova de quem planta Se dos olhos cair não adianta Que não enche cacimba e nem barreiro Cresce mais a angustia e o desespero Vendo o bicho sofrer sem ser culpado No sertão falta água para o gado Porém sobra nos olhos do vaqueiro No sertão muitos sofrem sem motivo E eu não sei se merecem sofrer tanto Falta chuva no céu sobra no pranto De quem cuida do gado inofensivo O vaqueiro agradece ainda estar vivo Personagem de um drama costumeiro Vendo o sol afastar o nevoeiro Alvejar criação, pessoa e prado No sertão falta água para o gado Porém sobra nos olhos do vaqueiro Se repete esse drama no sertão Fortaleza abissal dos aperreios Os olhares humanos estão cheios Mas os rios e poços não estão Uma gota do céu não cai no chão Ressecando inda mais o tabuleiro Muge o boi mas da água nem o cheiro Chora o homem com pena do coitado No sertão falta água para o gado Porém sobra nos olhos do vaqueiro O trovão com a voz estrepitosa Nas encostas do céu se locomove O relâmpago aparece mais não chove Que irrigue o pistilo de uma rosa A promessa de chuva é enganosa Só o choro do homem é verdadeiro Quem mais sente é o vaqueiro e o fazendeiro Vendo o gado sedento e castigado No sertão falta água para o gado, Porém sobra nos olhos do vaqueiro Um vaqueiro soluça de manhã Sem ter água no poço ou na cascata Anda até seis quilômetros com uma lata Perde as forças na aventura vã Vê tombando de sede uma marrã Uma vaca uma cabra ou um carneiro E um garrote pertinho de um facheiro À Espera do líquido esverdeado No sertão falta água para o gado Porém sobra nos olhos do vaqueiro O sertão vive cheio de armadilhas É um palco de cenas ruins e boas Descem Lágrimas dos olhos das pessoas Falta líquido no cocho das novilhas Esqueletos de bichos sobre as trilhas Muitas vítimas de um clima traiçoeiro Na estampa do céu um fogareiro No olhar do matuto um alagado No sertão falta água para o gado Porém sobra nos olhos do vaqueiro