Uma cantiga embala a dança Num ritual de culto e festa! A mais antiga das heranças Legada ao povo da floresta De um mururé, ainda ecoa Som de um clarim da Babilônia, E a mesma música ressoa No coração da Amazônia! Um velho índio recita notas de um mantra em bambu Seu corpo em transe levita, suavemente e nu! A mão do tempo que semeia Grãos de culturas milenares, Fez germinar em minha aldeia Cantos e danças populares Dança-da-chuva rasga o manto, O véu-das-águas cobre a terra, A voz-do-tempo entoa o canto De um trovejante hino de guerra cunhã-poranga suspira por um guerreiro tribal, Seu corpo de Kuben'yra desenha o tameal Uma maraca irrompe a sesta. Alto-xingu recria a cena, Na maratona da floresta Tora no ombro vira pena Dança-das-águas fere o mangue, Que a pororoca desafia, E a mãe-do-mato colhe o sangue Pra injetar na nova cria Canção do tempo viaja no sopro d'upauã Do wapté que se traja pro ritual do clã