Chispiou a primeira estrela Sobre o céu do continente Se ouviu a água corrente Cortar a pampa charrua Nascia a raça mais crua Que o espinho da japecanga Pra olhar a boca da sanga Comungar hóstias de luas Voaram então duas pedras Sobre as cabeças, rodando E viu-se um potro bolcando Levando o primeiro tombo Pra depois, manso de lombo Carregar um índio campeiro E se ouvir no pago inteiro Patas baterem qual bombo Rasgou no céu a faísca De um raio em noite de guerra Que enraizou-se na terra Bem vinda, fértil e mansa E o fio da adaga e da lança Com o mesmo aço que veio Moldou-se à boca, nos freios Dos cavalos de confiança Morreu a rês pela faca E principiou-se a sangria Demarcando a geografia Em rastros e morredouros Quando o avesso dos couros Que toldaram os benditos Trançaram relhos e ritos Em mil peleias de touros Se vieram os dias, as noites Romanças e ventanias As vacas chamando a cria Em rodeios e entreveiros Barbarescos aguaceiros Molhando a alma da gente Que fecundou a semente Na gênesis dos campeiros No princípio foi assim Se fez o céu e a terra E as águas primordiais E os gaúchos tão iguais À sua própria imagem Fez-se a luz, a paisagem Os bichos e o firmamento Depois, a chuva e o vento E nem precisava mais!