Andar num piso estranho E não reconhecer paredes ao redor Não quero fechaduras Nem portões Pairar no ar castanho Usando máscara pra não tragar o odor E pra ninguém sacar minhas emoções Pois sou como um ator Sou bicho cênico Que toma diariamente doses de arsênico Só pra manter no rosto esse semblante cínico Em dias enfadonhos Eu rasgo cédulas pra repensar o amor Eu vou além das teletransmissões Sou duro como estanho Sou sumidouro e me desfaço qual vapor Eu ironizo as orações Porém eu nunca quis representar um sádico Nem nunca vou sorrir naquele ato trágico Só finjo firmeza e raciocínio lógico De tanto ver arder nesse povo sem eira A radiação sem filtro nem peneira Meu peito se contorce E a raiva é maluqueira.