Mundo Caranguejo Enquanto os dias passam O velho mendigo desiste da luz do outro lado da ponte Pois a cheia do rio lhe deixou nada mais Que meia dúzia de dentes podres Nem esmola nem compaixão O velho agora só pensa em ver a ponte cair Pra nessa lama afundar, ali definhar e em caranguejo se transformar Pra então realizar o antigo sonho de... Andar para o lado, só para o lado E se libertar da paranóia do progresso Afinal, o que é o progresso? Se o próprio tempo é uma farsa Eu já nem sei se consigo buscar cegamente aquela luz no horizonte Pois as curvas do rio arrastaram meu cais Pra outras ilhas que não Açores Encruzilhada ou bifurcação Ambas a dona moça não pensa existir Mas a marola do mar, o movimento do ar Nada no mundo é linear (meu bem) Se evoluir significa adaptar-se Eu espero que o nosso próximo passo seja A extinção das máquinas Eu quero tentar me virar no mundo sem elas Eu quero a selva que não é de pedra E que sobrem apenas os amplificadores Hoje melhor que ontem, amanhã melhor que hoje Na progressão dos dias amanhã sempre será mais que hoje Mais urbano, mais corrupto, mais fedido, mais imundo Cintilando sucesso, progresso, progresso, sucesso Aspirando informação em excesso Dando a luz a homens possessos Possessos! Possessos! Uhuuu...