Pés descalço, chão de barro, 2 cômodos, sem quarto 5 irmãos, mãe, tia e meu pai embriagado Tudo junto num barraco caindo aos pedaços Quando chove, ninguém não dorme, tudo fica alagado Domingo é o dia de encher a geladeira Família satisfeita com o que sobra lá da feira Beterraba, tem cenoura, alface, agrião Mó disputa pelas fruta que tava tudo no chão Diversão só no campinho, sem grama, só de terra Sem bola, sem chuteira, brincadeira se encerra Quando a polícia chega toda despreparada Cheia de arrogância, bate sem ter feito nada! E quando chego em casa pra tomar um banho Meu pai já muito loco, pega a cinta e eu apanho Deus, fico perguntando: porque a vida é assim? Eu rezo todo dia pra chegar ao fim Tenho idade pra brincar. Tenho idade pra sorrir Tenho idade pra estudar, idade pra se divertir Não queria desviar pro caminho obscuro Mas nem toda criança nasce para ter futuro A idade avançou e o tempo não parou As coisas só piorou. Eu não por onde vou! Escola não quero mais. Meu ensino é o asfalto A roda dos mais velho conversando sobre assalto Conversando sobre crime, treta, tiro, confusão Comecei minha carreira firme com disposição Não sabia voar, mas já era um avião Que transportava pó, que vendia ilusão! Satisfação não dou, minha mãe não me quer mais Tinha ódio da escola em todos dia dos pais Sem resto da feira, sem esmola, humilhação! Não nasci pra empregado: nasci pra ser patrão! A minha casa é a fundação, onde não sou recuperado 16 anos na rua, abandonado pelo Estado Sociedade, vai, me prende, melhor que me deixar livre Assim quem sabe eu antecipe minha formação no crime Um olhar de desprezo, um olhar de julgamento, um olhar de punição Queria ter um futuro digno, mas ao invés de escola, me puseram numa prisão