Sou a dobra de mim sobre mim mesmo Nesse afã de ganhar de quem me ganha Tento andar no meu passo e vou a esmo Tento pegar meu pulso e ele me apanha Eita, sombra rival que me acompanha Artimanha de encosto malfazejo Rodopiei, beijei o chão, cambei pra cá Meu mestre rei foi Salomão, camará Dou um talho em meu próprio sentimento Pra que o mundo fulgure na clareira Que esse nervo me aviva o sofrimento Que esse olho é motivo de cegueira Ê, presença difusa, desordeira Giro de furacão sem epicentro Desafiei, puxei facão, ponguei pra lá Vazei no peito esse intrujão, camará! E vem pernada aí Vem não, foi desvario E vem navalha aí Vem não, foi calafrio A roda vai abrir Quando eu cair Por um fio Camará, camará Meu sangue arredio, arrevesado Arranco e derramo em oferenda Mas não ponho fim nessa contenda Com meu coração esconjurado Camará, camará, camará Sei de um rosto escondido no espelho Bem depois do cristal iridescente Entro no meu juízo e destrambelho Entro no meu caminho e passo rente Eita, angústia que vai minando a gente Capoeira contra Pedro-Botelho Serpenteei, botei pressão, varei o ar Parei no meio do desvão, camará E vem pernada aí Vem não, foi desvario E vem navalha aí Vem não, foi calafrio A roda vai sumir Quando eu cair No vazio Camará, camará, camará Meu corpo erradio, arrebatado Debulho na boca da moenda Mas não boto fim nessa contenda Com meu coração esconjurado Camará Maculelê não me mate o homem Ele é meu irmão, não me mate o homem Maculelê não me mate o homem Que ele é cristão não me mate o homem Maculelê não me mate o homem Ele é meu amigo, não me mate o homem Maculelê não me mate