Agora a vida só se leva a ferro e soco Agora o jogo só desata a murro e faca Agora o cara a cara é desrazão Até que já não reste um olho Até que a boca já nem guarde cacos pra risada À vera o escuro desce bruto num sufoco Um bote surdo feito enrosco de emboscada Na hora em que a estiagem greta o chão O sonho verte em sumidouro A trupe lava a cara e cata os trastes pra recomeçar Em frente a serpentear Mambembe caravana a estrada Estranha e inusitada procissão Cada morro mais um morro pra derrotar Atrás de terra chã que a lona abrace E o circo remendado coração Vai poder armar de novo Louco Picadeiro doido Fogo Vai arder de novo Um dia o mundo esgota o gosto pelo turvo Quiçá por luz ou mero efeito do cansaço Charada que não pede explicação A fúria cega inveja o sonho A força bruta cede aos arlequins e suas graças E num segundo a chuva entorne todo o escuro Tornando tudo imenso açude desbordado Um mar assim repleto de tesão Até que já não reste sombra Ganância, medo nem vontade de voltar atrás Em frente a serpentear Mambembe caravana pela estrada Estranha e inusitada procissão Cada morro mais um morro pra derrotar Atrás de terra chã que a lona abrace E o circo remendado coração Vai poder armar de novo Louco Picadeiro doido Fogo Vai arder de novo