Madrugada Labaredas na calçada Uma chuva fina e chata cai, e a cidade vira um caos Cumpro apenas meu trabalho Que é circular por becos e desertos e botecos E lugares E enganos Em avenidas engarrafadas E em mensagens distorcidas dos faróis Que explodem como granadas nos olhos de quem vem Residências Lojas Hotéis Restaurantes Eu cresci nessa rua Eu me lembro Eu ainda me lembro (Eu vejo um anjo e um demônio vindo em minha direção Acendo o meu cigarro e digo: Ei! Qual de vocês veio me levar?) Ninguém! Eu cumpro apenas meu trabalho Que é circular pelo bairro Atrás de um delírio Ou um argumento qualquer Mas que nada! Chuva fina na calçada Passo em frente à minha escola, e vejo velhos fantasmas Empapados em suor e sangue E velhos hábitos Em embalagens de plástico Sob o rio tietê (tão bonito, tão bonito, e tão fétido) Oh, granada! Terra santa e desgraçada! Quitaúna nos meus sonhos, os meus pesadelos fogem como sombras À seus pés (Labaredas na calçada, e uma boca de batom (Ela ainda é uma criança!) E me diz: Oi perdido, você quer me levar? Quer cuidar de mim?) Onde isso vai me levar? Em qual direção isso vai me levar? Madrugada (É tão tarde, e eu preciso descansar Eu preciso descansar nessa praça Eu já brinquei nessa praça) Velhos hábitos A cada noite, eu sinto seu hálito Oh, minha granada, sou seu dilema