1. O Andarilho Um andarilho vai pela noite A passos largos; Só curvo vale e longo desdém São seus encargos. A noite é linda - Mas ele avança e não se detém. Aonde vai seu caminho ainda? Nem sabe bem. Um passarinho canta na noite: "Ai, minha ave, que me fizeste! Que meu sentido e pé retiveste, E escorres mágoa de coração Tão docemente no meu ouvido, Que ainda paro E presto atenção? - Por que me lanças teu chamariz?" - A boa ave se cala e diz: "Não, andarilho! Não é a ti não, Que chamo aqui Com a canção - Chamo uma fêmea de seu desdém - Que importa isso a ti também? Sozinho, a noite não está linda - Que importa a ti? Deves ainda Seguir, andar, E nunca, nunca, nunca parar! Ficas ainda? O que te fez minha flauta mansa, Homem da andança?" A boa ave se cala e pensa: "O que lhe fez minha flauta mansa, Que fica ainda? - O pobre, pobre homem da andança!"