Mãe, porque? Mãe porque? Meu mundo, meu inferno Acabo de ser criado, gerado no imprevisto Meus pais ainda não sabem, só Deus sabe que eu existo Sou uma môrula, um mero corpúsculo Uma célula fecundada, um feto minúsculo Mas já tenho em mim, algumas qualidades Que hão de constituir a minha personalidade Já recebi dos meus pais tudo que preciso Para que eu possa ser alguém com juízo Só falta me alimentar em pleno Tornar grande em mim, o que ainda é pequeno Se passaram 10 dias, eu penso! Como será quando eu me tornar imenso?! Tenho certeza que ela pulará de alegria E eu vou crescer agradecendo todos os dias Pelo trabalho que agora por mim suporta Principalmente quando a velhice bater a sua porta O meu Sol se perde e não me aquecerá jamais Porque mãe porque? Vou morrendo devagar Esbanjando dúvidas na alma dos que me ouvem Mais 16 dias e o coração já bate forte Ela notou e contou ao meu pai na mesma noite Meu pai se chateou, não sei porque Acho que ainda não me viram, vão me amar quando nascer 50 dias! Não estou bem certo Se já começo a parecer um homem feito Embora os dedinhos, olhitos, orelhas e mais Provam que serei bonito como os meus pais 55 dias! Acho! Deixa ver! Ai! Que dor! O que está a acontecer? Comprimidos?! Injecção por aqui?! Chegou a minha hora, agora entendi Não houve choros, luto, funeral! É sério! Não houve caixão ou um lugarzinho no cemitério Não houve protestos, acabou e pronto Atiraram-me à fossa, eu na terra já não conto O meu Sol se perde e não me aquecerá jamais Porque mãe porque? Vou morrendo devagar Esbanjando dúvidas na alma dos que me ouvem Eu sou a tua consciência, agora escuta bem É crime, ninguém deve tirar a vida a ninguém Que mal ele te fez? Porque o mataste? Se não querias que ele existisse porque o geraste? Tinhas medo! Vergonha! Não entendo isso Ele não seria obstáculos para nenhum compromisso Ele só queria o leite que de ti brota Que se se perdesse, que o ensinasses o caminho de volta Quem fosses o que ele pediu a Deus de coração Que o ensinasses a levantar depois de cair no chão O mal de uns é o consolo de outros Ele não conseguiu pediu socorro num tribunal Chamar a polícia ou disparar alguma coisa A vida distante de Deus se torna perigosa Mas para ele já é tarde, a vida se foi com a morte Só é cedo para quem aprender com esta triste sorte O meu Sol se perde e não me aquecerá jamais Porque mãe por que? Vou morrendo devagar Esbanjando dúvidas na alma dos que me ouvem