A chuva da tarde galopeava solta sem nunca dar trégua Distância de légua se via na volta que fechou parelho As sangas bufando o pasto encharcado e um vento teatino Que assoviava fino, abanando meu poncho de carnal vermelho Pelego virado, as cordas molhadas chegavam dar pena Até a cantilena das minhas esporas foram silenciando Chapéu desabado gotejava a água escorrida da copa Coisas pra quem topa enfrentar o tempo assim campereando Pra costa do mato uma ponta de gado rumou despacito Vinha ao trotezito, mas cruzei de largo sem fazer alarde Um lote de ovelha procura refúgio descendo a coxilha E a minha tordilha fareja invernia que aos poucos se encarde As nuvens cinzentas cruzando pesadas pro lado de cá Carregam de alla um frio que arrepia E na terra deságua e na terra deságua Judiando dos bichos, catigando os homens sendo impiedoso Vindo buscar pouso pelos descampados Pelos descampados e ranchos de tábua No passo do meio cruzando com a água na argola da cincha Me lembrei da quincha que abriga os meus em volta dos tições Pedi ao santo padre que não desampare os que a vida renega E se vão as macegas quando relampeia a alma dos trovões A chuva da tarde entrou noite a dentro na mesma constância Arrepiando a ânsia do que nessas horas a gente descobre Mas quem campereia cuidando dos outros em dias assim Ganhará no fim um lugar ao Sol que é o poncho do pobre