Acompanhe o meu raciocínio Será possível uma família viver com tão pouco assim Três filhos que foram bem vindos Crianças que sobreviveram e chegaram até aqui O mais novo só tem dois anos Depende da saúde pública precária pra poder crescer Tem a filha de cinco anos Que batalhou por sua vida depois de tanto sofrer O mais velho tem nove anos Teve que largar a escola Pra sua família ter o que comer O pai que cuidava de tudo Perdeu o seu emprego e as cria sem renda ficou Frustrado se viu sem saída E no álcool foi buscar alívio pra amenizar sua dor A mulher daquele lar Já não sabia o que fazer, seu companheiro a deixou na mão Com três crianças pra criar Qualquer serviço é bem vindo naquela situação Num comentário lá na rua Alguém ficou sabendo pela tia da comadre da vizinha Que morava de favor no barraco da sua prima Que um certo empresário que levava doações Pela igreja pra comunidade tinha uma vaga pra faxina Na mesma hora se prontificou pelo serviço Se arrumou e deixou o mais velho cuidando dos outros filhos Pediu uns trocados emprestados pra vizinha Pra pagar o circular até o lugar Uma área nobre da cidade Que ficava longe da sua comunidade Levou algumas horas pra chegar E o senhor lhe atendeu com muita boa vontade Fez algumas perguntas pra constar E ela explicou a sua necessidade Que aquela oportunidade Era a única que poderia lhe salvar Tinha três filhos pra criar Que o pai abandonou sem nenhuma explicação E as latinhas que catavam Não eram suficientes pra uma refeição O empresário pela moça se simpatizou E quis lhe dar aquela chance que tanto pediu Precisava de alguém que tivesse um bom coração pois estava doente Que a faxina nem era a questão Perdeu a sua esposa há pouco tempo Seus filhos não moravam no Brasil E ele não queria preocupá-los no momento Por isso sobre aquilo sigilo pediu Vivia sozinho numa casa muito grande Sua companhia era um labrador gigante A mulher ouviu por horas aquele senhor Que falou da sua vida com muito louvor Que na comunidade ele a observou E o quanto batalhavam pela vida As doações que enviou pela igreja Quase sempre era pensando na sua família Muita gente dali na sua indústria trabalhava Mas veio a crise e muitos foram pra casa Depois da morte da sua mulher Muita coisa mudou sua vida desandou Os negócios já não importavam Vendeu a sua empresa pra uma multinacional Uma boa grana pra ele sobrava Seus filhos lá fora dele já não precisavam Formaram as suas famílias E esquecido ele ficou sozinho na vida Tinha uma casa vazia nos fundos da sua residência Que se não se importasse ele a ofereceria Pra morar com os seus filhos Podendo cuidar dele e criando os meninos Seus olhos se encheram d’água Que esperança aquela família tinha sem ter nada? Ela se ajoelhou rezou a Deus Agradeceu o homem que a ajudou E chorou E chorou E chorou O que ela sentia já não mais podia conter E chorou Aquele homem a salvou E chorou De toda miséria que ela vivia E chorou Quanta gente vive nessa condição E chorou Um povo isolado do mundo E chorou Que não teve a mesma sorte de encontrar alguém de bom coração