Eu comecei a cantar minha canção do meio Comendo pão sem recheio Ela era onça e cutucou com a vara curta o meu lado E eu me debatia todo, será que isso é pecado Eu me contorço, eu sou bem moço Eu tenho muito pra ver eu não me posso morrer O dia a dia do diabo A correria do quiabo Minha mulher me pôs um rabo No meu Natal desempregado Mas te dizia meu medo era de ter dinheiro Gastava tudo num cheiro Vou te contar que tudo foi desenrolado errado E eu me confundia todo, será que eu fui mal-criado Tinha mulher e geladeira perdi tudo em janeiro E me mudei pro buraco Deitei miséria festeira Eu fui catar poeira Virei cavalo dado Dourado, tristeza, ah nem! Bebi do sangue até dizer amém! E num papel guardanapo Onde foi anotado Um telefone e um recado Batom salgado deixa a marca De um beijo vermelho Será que foi mal olhado A minha vida não vinga Eu tomo pinga, eu me tropeço Eu me confundo no espelho Eu não me posso morrer A fantasia do diabo Meu quibe frito mal passado Eu de mulher me fiz dobrado Em fevereiro eu sou passado Como dizia meu pai pra não faltar angú Tem que ralar no fubá Vou te contar que eu trabalhava De domingo a domingo E me faltava um sorriso Noite de Lua é tão lindo, faz de conta Que meu bolso não é mais tão liso E o nosso céu é azul Deitei miséria festeira Eu fui catar poeira Virei cavalo dado Dourado, tristeza, ah nem! Bebi do sangue até dizer amém! E pra moral dessa história desmoralizada É uma mentira danada Não tenho pai, não trabalhei Eu nunca tive mulher muito menos geladeira No papel guardanapo não tem beijo nem recado Se nem mesmo eu existo eu já não posso morrer