Acho que já perdi o jeito pra sorrir Acho que não sou feliz Acho que não é também feliz Nossas roupas no varal Já não se enlaçam, nem se tocam Pedem ao vento pra soprar Querem voar, secar noutro lugar Sabe a vida não ensina a somar defeitos Assumir os erros do outro E assim o amor se vai Procurando em lojas roupas novas Para provas não guardar Ao pano usado a sorte nessas trovas Ou aos pés pra se limpar Nossas vestes no quintal recordações Folhas ao vento em um temporal Sujas pelo tempo ao relento A ver o que sobrou Os remendos bem no centro, desatentos A malha fina arrebentou Nem mesmo as amarras que fizemos aos extremos Com tanta emenda o cordão não suportou Pode ser noutro quintal Quem sabe um dia talvez Nossas roupas outra vez Se encontrem num varal Lavadas, passadas, penduradas, perdoadas Sem nenhum rancor Sem mágoas na alma poderemos ser Bons amigos... Nada mais.