O dia mal amanhecia e o canavieiro antes do luzeiro, “já estava de pé”. Cortando a cana pro gado à luz de pixirica, firmado na lida, Movido na fé... O velho canavieiro, Mostrava pra filharada, A arte do seu alambique: “-te afirma nos fueiro Pra nós ir pra estrada...” A moenda vai girando Com os ponteiros do tempo E o verde dos canaviais Vai dançando no embalo do vento. As cantigas de então, Vão se ouvindo pelas lonjuras. “-me bota os boi nesta canga Que é pra não faltá rapadura...” A velha carreta rangendo, Entrava na roça pra ser carregada De cana cortada. “-mulher vai limpando o cilindro que a tarde vem vindo e a carga tá indo Pra ser esmagada...” A mansa junta de bois, Dois pares de olhos vendados, Fazia brotar da engrenagem, O caldo valioso pra ser fermentado... A moenda vai girando... enquanto a fornalha esquenta, Caprichosa e lenta a garapa fermenta, Pra ser “lambicada”. depois de estar tudo bem quente , Em boa aguardente, pra alegrar a gente, Já sai transformada.... Fervido, está o melado, No ponto de rapadura E o velho e bom canavieiro é quem prova primeiro Da sua doçura. A moenda vai girando... ...e hoje, a luz da pixirica ficou na memória, faz parte da história De um tempo que foi. O engenho já foi transformado Num belo povoado, com fio esticado, “descansou os boi”. Os filhos do canavieiro Deixaram o velho só E num canto, abandonada, Ficou a moenda coberta de pó.