Gildo de Freitas

Meu Principio

Gildo de Freitas


Vou cantar o meu principio
Não vão pensar que é moleza
Sempre vivi abraçado
Com a miséria da pobreza
Trouxe o dom de ser poeta
Pra mais tarde ter defesa
Já passei muitos trabalho
Vivendo assim que nem galho
Por conta da correnteza

Meu serviço mais leviano
Foi prender bois em carreira
Machado em corte de lenha
De pá abrindo valeta
Abrindo corte de estrada
No cabo da picareta
Fui homem sacrificado
Quem nem braço de aleijado
Esfolado da muleta

Cantava só nos domingo
Não era assim como canto
Eu também nem me esperava
Que um dia cantasse tanto
Me chamavam de endiabrado
E se eu era não garanto
Pobre, bravo sem juízo
E os bolso sempre liso
Que nem rostinho de santo

E com um baralho na mão
Eu não era muito tanso
O meu baralho marcado
Descobriam e davam o ranso
Ali começava a briga
Minha vida era um balanço
Fui ligeiro quem nem gato
Eu era o tipo do pato
Que às vezes passava por ganso

(Depois de quarenta anos foi que me fez a melhora
Fui gravar, fiquei artista, vivo mais folgado agora
Tenha carro, tenha casa, mas descanso poucas horas
Eu sou que nem botão de roupa
Que tem casa, mas não mora
Sou que nem cinta em fivela
Que entra por dentro dela e sai pro lado de fora)

Nesse pedaço de chão
Eu fui muito sacrificado
Eu as vezes sinto canseira
Só no lembrar meu passado
Hoje a vida ta mais frouxa
Quem nem palanque em banhado
Pelos filhos eu nem garanto
Porque eu trabalhei tanto
Que eles nasceram cansado
(É isso mesmo vamo encerrar)