Seu dotô, eu não lhe engano Eu tenho quase trinta ano, que moro desse lugar Dou-lhe a palavra de homi Se não quer morrer de fome, va viver na capitá Aqui no nosso sertão, essa história de injeção o pessoa tem receio E voismicê como é novo e não conhece esse povo Eu vou lhe dar uns conselho A coisa aqui tá esquisita E ninguém não acredita em receita de dotô, eh Já é costume da gente, quando alguém esta doente, chama logo o rezador Se o cabra ta morimbundo, manda chamar Ze Raimundo Que é um rezador diligente e a todo mundo socorre Quando reza o cabra morre, ou fica bom de repente Rezador, sim senhor! E seu doto? Não senhor! Pois o próprio zé raimundo, no tempo que aqui chegou Mostrava pra todo mundo seu diproma de dotô Quaje que morreu de fome, precisou mudar de nome e treinar p rezador Quaje que morreu de fome, precisou mudar de nome e treinar p rezador Rezador, sim senhor! E seu dotô? Não senhor! Com fé no coração, três gaio de peão, eu lhe agaranto Rezando três vezes em cruzado eu deixo qualquer doente Forte, bonzinho e corado Pra que vocês se convenca, vou lher dizer as doenças, que o rezador tem curado Paneriço, sete coro, ferida braba, friera, moridura de besouro, má de zipra, coceira Tudo quanto é ferida, dor de espinhela caída, garganta inchada e papeira Dor de dente, estalecido, dor na costa, istambo inchado Dor de cabeça, zumbido, ansia, ingasgo, dor de lado Qualquer espécie de dor, Zé Raimundo rezador, tem muita gente curado Com ele num tem gogó essa história de agonia Quebranto, mal oiado, três Sol, injou e manicunia Sarna, bexiga e sarambo, ligeiro como relampo, cura da noite pro dia Mordida de cascavé, jararaca e salamantra O doente tendo fé, essas coisas num lhe ispanta Zé Raimundo bota a mão e na merma ocasião o doente se alevanta É por isso que o pessoar só procura o Zé Raimundo Ele aqui neste lugar é primeiro e sem segundo E enquanto houver Rezadô, ninguém liga pra Doutor Nem que venha d'outro mundo Rezador, sim senhor! E seu dotô? Não senhor!