Na Serra da Mantiqueira Sob a fronde da mangueira Que ela em moça viu plantar, Sentadinha no seu banco, Lá na encosta do barranco, Mãe Maria vai sonhar. Dos amores do passado Só lhe resta um filho amado Que lhe dá felicidade. Ele é todo o seu encanto, Sua vida, o fruto santo Da longínqua mocidade. E nas nuvens que, correndo, Vão no céu aparecendo Pra no ocaso descansar, Ela vê os belos dias De venturas e alegria Que não mais hão de voltar. Eis, porém, que veio a guerra Abalando toda a serra Com o rugido do canhão. E a velhinha amargurada Viu seu filho lá na estrada Se sumir num batalhão. Segurando o rosário, No seu banco solitário, Mãe Maria reza agora, Pede a Deus ardentemente Que lhe mande o filho ausente Que já tanto se demora. E, numa tarde, ao sol poente, Ela escuta de repente A voz meiga do rapaz, Que lhe diz, tal como em vida: "Muito em breve, mãe querida, Lá no Céu me encontrarás!"