Gaiteirios de Lisboa

Era não era do tamanho de um pardal

Gaiteirios de Lisboa


Era não era 
Foi deixado ao abandono 
Num dia quente de Outono 
No meio de um meloal 
Era não era 
Sei lá se era ou não era 
Só sei que os lados da esfera 
Cortam mais do que um punhal 

São mais ou menos 
Cento e vinte e quatro lados 
Redondinhos, afiados 
Do tamanho de um pardal 
Mas sem as penas 
Nem as partes comestíveis 
Nem a caixa dos fusíveis 
Nem a corda do estendal 

Era não era 
Palmilhei o mar profundo 
Sem parar um só segundo 
Para apanhar estrelas do céu 
No meio das nuvens 
Nadei eu entre os rochedos 
Cheio de frio e de medos 
Ao sabor do macaréu 

Os macaréus 
São umas ondas muito altas 
Da família das pernaltas 
E maiores do que um pardal 
Mas sem as penas 
Nem as partes comestíveis 
Nem a caixa dos fusíveis 
Nem a corda do estendal 

Era não era 
Diz o nabo para o repolho 
Tu não me franzas o olho 
Que eu de ti não tenho medo 
Era não era 
Diz a ameixa para a cenoura 
Vou para Paredes de Coura 
Vou partir de manhã cedo 

Uma linda terra 
Do concelho de Alcobaça 
Só conhece quem lá passa 
Junto à tasca do pardal 
Mas sem as penas 
Nem as partes comestíveis 
Nem a caixa dos fusíveis 
Nem a corda do estendal