Em uma esquina, eu vi você No encontro da Rua Sem-Nome e a Avenida Não-Sei-O-Quê Um sinal fechado, uma estação de metrô Eu não quero um chiclete Eu não quero um panfleto O sinal abriu Eu avanço e avança a vontade de te ver Piso fundo e imagino a vingança Mesmo sem querer Os edifícios e os prédios e as torres Arranham o céu Arranham o céu e alguém arranhou seu carro Pelas casas agora, as portas fechadas, janelas fechadas Um beco sem saída Um bairro sem vida É um bairro ainda É um bairro Ainda é um bairro, sim Desço e bato a porta do carro Outra porta fechada, outra porta Eu não quis fazer isso Eu não quis dizer isso Eu peço perdão São Paulo tá cheia de poetas que não recitam poemas São palavras mortas, frases frágeis, linhas tortas Versos que morreram na borracha do não dito São Paulo tem poemas em cada silêncio E cada grito feminino pela noite, cada tiro ou buzinada É um instante que faz a arte perecer São Paulo matou a poesia que fez renascer em mim a vontade de viver É agora cifras, métricas Um estouro no Instagram Poemas não são nada mais que o seu próximo post Uma indireta errante Louca pra acertar qualquer ser pensante que desavisado passar pelo feed O poeta que para o bar para falar de amor Nunca vai pisar em São Paulo Assim que desembarca, se transforma Vira arma Vira homem de mão armada Pronto para disparar contra o estabelecimento Pronto para disparar contra o estabelecido Vadio! Aqui não cabe o seu desassossego A sua desorganização Ou as suas inquietudes A não ser que virem canção A gente gosta do caos de concreto e papeis Tudo a tinta impresso Os seus rabiscos antônios não cabem aqui A não ser que se escondam muito bem em guardanapos de um bar E ficam bem escondidos também os nossos sentimentos Tão escassos quanto proibidos Banidos Bandidos! Roubam a nossa paz É que falta em São Paulo Pra bagunçar essa ordem de inércia Essa apatia maquiada tão bonita Ao lado da sua Costela-de-Adão e o seu membro flácido Poetas Poetas ofendem o mundo broxa com a sua ereção