Eu fiquei calado Arranhando o madeiro De olhos fechados Deixando que as mãos guiassem os meus sentimentos Do sangue que escorreu das unhas, Do suor que umedeceu meu corpo, Com as lágrimas que pingaram dos meus olhos, Enfim na madeira a sua imagem já talhada, Colori com a tinta que de mim nasceu Que só pra ti se fez... E esculpi com pedaços de estiletes finos Na minha face à imagem mais perfeita Que de outro humano em um humano já se fez E declarei em meio a essa dor intensa A vontade enorme e infinda De um dia nos dois enfim sermos três E delirei dançando sobre o sol e a chuva Ultrapassando dopado, noites e dias Ofuscando a luz e colorindo a sombra Pra fazer a declaração de amor Que nunca nesse plano Anjo, humano, ou espírito já fez... E lapidei as palavras brutas Pretendendo colocar em cada uma das letras As poesias que um dia pra ti eu fiz E sobre a cortina de bambu Joguei álcool, risquei o fósforo e incendiei Pra aquecer o amor adormecido A fim de reenlaçar o laço que se desprendeu E sobre o suspiro mais agonizante Peguei a faca e me cortei Na dor imensa sorri Na loucura de ressuscitar O que era vivo e morreu O figurino das roupas novas que vesti Há duas horas atrás: gritei, rasguei. E com os trapos dessa seda imunda Umedeci nas lágrimas que chorei E limpei minha carne nua e podre Sujando os trapos com o sangue Que de mim pingou, que de mim te fez. E selei o pacto mais caro Para simbolizar a maior prova de amor que inventei Na traição que vejo Mas não acredito Desse amor-perfeito-falso que vislumbrei Mas me prometa que nunca serão ditas As palavras que você me disse A outro alguém E peguei a caneta e escrevi no papel Detalhando ainda mais os fatos que já narrei E amassei as folhas Tal rascunho, no lixo joguei, E prometi em meio há lágrimas e surtos de insanidade Esquecer de tudo que lhe contei Em meio a tudo isso, perdi a razão, De ti fugi, em mim meu eu se perdeu outra vez, Aluado não sou mais líder, Obedeço inconscientemente à lei E preso nessa camisa de forças No sanatório enfim parei E que o tempo feche as feridas Que embora hoje não doam Sangram toda vez Destilando na pureza do sangue Todas as poesias que não te dei.