Franklin Mano

Reticências

Franklin Mano


Não sei o País, o Estado, a Cidade,
O bairro, a rua, o número do seu apartamento
Como posso te encontrar?

Só sei o seu primeiro nome
Mais são tantos nomes, sobrenomes...
Como posso te chamar?

Ao menos se eu soubesse o seu Codinome
Te gritaria em silêncio pra só você escutar
E recitaria a poesia mais bonita em Língua de Anjos
Pois só você que é anjo poderia escutar, e entender
Pra depois me devolver toda a ternura de cada letra em forma de um olhar...

E no escuro do meu quarto tento outra vez: fazer Deus me escutar
Pra ficarmos frente a frente
Pois dessa vez eu tenho argumentos convincentes
Pra Ele realizar o meu maior desejo
Que te ver nascendo...

Pra filmar com os olhos o seu primeiro pranto, medo, susto, riso,
Seu primeiro sono fora do ventre da sua mãe
E escutar seu coração pequenino e puro a pulsar
Justificando minha vida tão vazia e vã.

Pra me aliviar...

E depois poder te acompanhar em silêncio ocultamente
Até os seus dezenove anos
Quando na verdade eu vou poder te encontrar pela primeira vez

E te olhar no fundo dos olhos
Como se eu fosse um pedaço de você
Que você seguiu à vida inteira pelo cheiro a procurar
Sentindo na pele a ausência de mim como se fosse de si mesma

Para em fim nos tocar...

E nos olhar pela primeira vez como se fosse à última
E num sorriso gêmeo simplesmente expressar
A vontade de um beijo

E nos beijar...

Como se fossemos um anjo
Há um segundo antes de cair do céu
Delirando na loucura
De ter vivido tudo e amanhã não poder voltar
Pro ontem que vivemos

Não podendo nos encontrar e nos beijar pela primeira vez
Porque esse momento já vivemos
Há horas, dias, meses, anos atrás...