Quando eu paro meu carro enfrente a tua casa Pensando em abrir a porta, descer... Entrar, voltar... Antes olho o velho banco de madeira As camisetas e os jeans estendidos nos varais Nas paredes, nos portões e nas janelas brancas, Nos vejo... E me lembro de um tempo que nada podia nos separar É quando me apeguo a qualquer pedaço de lembrança, Qualquer coisa louca, nua e crua Que aconteceu há horas, dias, meses atrás. E te vejo na madeira, na parede, no azulejo, Vejo mais uma vez o seu sorriso desfilando pelas minhas retinas, E o incenso do teu cheiro está por todo o lugar ficou em mim, Nos cantos e recantos da rua, da tua e da minha casa. É quando grito de amor e medo, Afogado de lembranças, Mendigando um carinho, um beijo, um abraço, E de repente sinto alguma coisa tua e estranha que ficou em mim, E no escuro disso tudo fui iluminado pelos teus faróis florescentes, Cor de rio castanho calmo e claro. Essa miragem e ilusão misturada com o meu delírio é solidão, Da fraqueza de um homem totalmente humano, Cheio de vícios e falhas... E alguma coisa linda, pura, ninfa e fada sua ficou em mim, Nos fios de cabelo, nos pêlos do corpo e da cara, A lembrança me devora... Teu corpo juvenil pardo quase sem pêlos Teus olhos castanhos, teus cabelos lisos negros Teu espírito em sintonia com a alma O timbre simétrico da tua fala Tua imagem perfeita dignificando o espelho Tua essência pura transpirando pelos poros Dopando o ar... É quando pelo chão e por cima do meu corpo cato, Migalhas, raspas, restos e saliva Dessa coisa insana, mágica e louca... Que aconteceu há horas, dias, meses atrás. Então ligo o carro, me calo e saio tonto pelas ruas em despero Por saber que não caibo em sua vida mais...