Vendi meu carro e minha boiada carreira Guardei no quarto pra ter de recordação A minha tralha do meu tempo de carreiro Quando eu rodava nas estradas do sertão Entre os guardados ficou uma velha guampa De chifre longo, pra transportar o azeite O meu ferrão sem a vara de marmelo Sem serventia hoje só ficou de enfeite Ficou o chumaço e uma canga de aroeira Quatro canzis, um fueiro e uma gamela Uma espingarda e um facão enferrujado O meu balaio e um cinturão sem a fivela Das duas rodas, guardei todos os rosalhos Uma peneira toda feita de taquara Um eixo gasto pelo peso de sua carga A cantadeira já sem óleo ressecada Tenho guardado na memória um canto triste Desentoado pelo tempo e o progresso Hoje eu carrego na lembrança o meu passado Pesado fardo de saudade eu lhe confesso Hoje esse quarto é o museu da minha vida Onde eu espero que passe o carro do tempo Leve o carreiro pra derradeira partida Pra uma viagem com passagem só de ida Pra uma viagem com passagem só de ida