Meu homem é o meu pão dormido Inteiro, calçado Restos jogados na cama Sonho torto agoniado. Meu homem é meu sala e quarto Conjugado na tristeza É o aluguel adiado É má fama, cama e mesa Meu homem traz os seus olhos vazios, vazados Traz o seu corpo sumido, surrado De janelas e viagens, de mares, mágoas e bares Traz as paisagens sofridas, batidas de vento Sol rubro, meu homem. Meu homem é roupa suja Que eu olho rindo, demente Lavando a limpo o passado Passando a ferro o presente. Meu homem nos seus trancos e barrancos Nos gostos tortos e mancos Faz coisas do Deus dará, meu homem Traz no corpo um cheiro de mulher E uma cicatriz mordida no peito. E pra mim que tanto o amei E que ainda o sei de cor De ponta a ponta, palmo a palmo Esta blasfemia, meu homem. Sempre indeciso, Traz um sorriso amarelo, Um coração de farelo. Meu homem é meu entulho Meu zelador descuidado É meu feijão de gorgulho Meu desejo enguiçado. Meu homem não vale nada eu sei Mas foi tudo o que encontrei.