Farto do diz que disse, Diz que viu, Diz que aconteceu, Diz que estava lá um amigo de um amigo Que é amigo teu. Farto de ouvir O mais bonito, O mais astuto, O mais sensível Mas o mais incrível É que ao espelho eu só vejo o mais bruto. Farto das mesmas queixas no mesmo caderno, Farto da caneta que me leva ao inferno, Farto de mim de ti de nós contra o resto do mundo. A seleção deles é mais forte, Ficaremos sempre em segundo. Ninguém te disse Ninguém te contou Ninguém te falou Não dá para ganhar. Eles dizem foge foge!, Mas eu fico, Foge foge!, E eu fico Cada vez mais bandido. Não sou luz da serra Nem sombra nem luz Nem sombra da noite, No alvor da madrugada Não sou coisa nem nada. Talvez louco..., O louco não tem número O limite da soma é o vazio. Não sou murmúrio de rio Nem cigarro viciado Nem ponta de cio, Nem lua patética Crescendo e fugindo do tempo que passa. Não sou quebra-luz, Nem gavinha entrelaçada num abraço de frio. Sete raios de sol queimaram o sonho, Sete chuvas de esperma o fecundaram. Já não sou resina Nem merda nem mijo, Nem sangue nem seiva. Morreram afrodites e leões de pêlo fulvo, Quando se inventou a alma E eu não sou mais do que rescaldo, Já não sou poeta nem nada.