Flávio Mattes

Tapera da Tia Benta

Flávio Mattes


Era muito conhecida
A tapera da Tia Benta
Pois segundo se comenta
Era até mal assombrada
Ficava à beira da estrada
Porém pouco aparecia
Porque o mato a encobria
Junto à boca da picada
A tapera da Tia Benta
Todo mundo assim chamava
Porque há tempo ali morava
Uma preta benzedeira
Fora grande curandeira
Que receitava sem medo
Sabia todo o segredo
Da medicina caseira

Ela vivia solita
Pois mataram seu marido
E os filhos tinham morrido
Na Guerra do Paraguai
Mas nunca exclamava um ai
Sofria de fronte erguida
Porque os filhos deram a vida
Vingando a morte do pai
Mas um dia ela se foi
E o ranchinho ali ficou
E assim se celebrizou
A tapera da Tia Benta
Nem nas noites de tormenta
Um bicho ali se abrigava
E o povo já comentava
Que a tapera era azarenta

Por fim já mal se avisa tava
A Cunheira do ranchito
Que o tempo fora aos pouquinhos
Destruindo sem clemência
Fora a tosca residencia
Onde tua Benta morava
Que com o tempo também chegava
Seu final de existência
E foi contemplando a tapéra
Que eu cheguei a conclusão
Que o meu pobre coração
Desabitado também
Sente saudade de alguém
Que foi sua dor noutrora
Desde quando foi embora
Nunca mais morou ninguém

Minha vida e os desenganos
Vão se levando ao roldão
Também sinto a solidão
E a dor que me atormenta
Meu coração se lamenta
Num suspiro abixornado
Muito mais abandonado
Que a tapéra da tia Benta
Muito mais abandonado
Que a tapéra da tia Benta
Muito mais abandonado
Que a tapéra da tia Benta