Não tenho jeito p'ra gerir património Nem sou pessoa p'ra aderir ao matrimónio Tenho uma voz que é mediana e tenho sonhos Mas sem maneira de atingir dias risonhos Não tenho os pés no chão mas tenho fantasias Coisas concretas não conheço e tenho dias Em que a maneira de acordar é com lamentos Pois se adormeço com um vazio nos sentimentos Serei o corpo que finda Sem ter tido ainda o tempo para ouvir Alguém que me diga ao certo Se estará por perto na hora de adormecer Não tive a sorte de ter tido algum juízo Tive o azar de ser fadado ao prejuízo Andei perdido e confiei nas impressões Mas sei agora que é errar nas previsões Fintei por vezes o destino que era doce Olhei o umbigo e imaginei algo que fosse Uma grandeza p'ra mim feita por medida Mas a esperança um dia caiu perdida Falhei nas contas que fiz p'rá posteridade Pois usei números que apurei na puberdade Não criei lendas mas menti e por castigo Já poucos crêem nas verdades que hoje digo Não tenho pressa de chagar a sítio algum Olho o futuro e não vejo lugar nenhum Onde as certezas que aprendi tenham um preço E as coisas certas que eu vivi lá no começo Tenham valor