Desde quando nasci Que o conheço e lhe quero Como a um irmão meu Como ao pai que perdi Como tudo o que espero É um homem que tem o condão da doçura No sorriso de água, nos olhos cansados É metade alegria, é metade ternura Nas palavras cantadas, nos gestos dançados Nos silêncios magoados Tem um rosto moreno Que o inverno o marcou E apesar de ser forte É um homem pequeno Mas maior do que eu sou Tem defeitos, é certo, como todos nós Sonha, às vezes demais, fala, às vezes no ar Mas quando dentro dele a alma ganha a voz É tal como se fosse o som do nosso mar Se pudesse falar Foi capaz de mentir Foi capaz de calar É capaz de chorar e de rir Tem um quê de fadista Tem um quê de gaivota E a mania que há-de ser artista Quando vê que precisa É capaz de roubar Mas também sabe dar a camisa Foi capaz de sofrer Foi capaz de lutar É capaz de ganhar e perder É um amigo meu que às vezes me ofende Mas que eu sei que me escuta Que eu sei que me ouve e também compreende Quantas vezes lhe digo que tenha juízo Que a mania dos copos só lhe faz é mal Que a preguiça não paga e que o trabalho é preciso Ele encolhe-me os ombros num desprezo total Este tipo é assim