Fernando Tordo

O Bem Aparecido

Fernando Tordo


Aparece um que me pergunta pela vida 
Desponta o dia, bom ou mau, mas despontou 
Recolho a rosa que não era o mês passado 
Encho de tinta a caneta que falhou 

Aparece um que me pergunta por ele próprio 
Releio um livro tão difícil de entender 
Vou jantar fora com a criança que faz anos 
Volto para o livro que começo a perceber 

Aparece um que me pergunta pelos outros 
Sou de uma tribo acampada no meu sonho 
Vivo à cigano que nem o Robin dos Bosques 
Roubando estórias que não ponho nem disponho 

Aparece um que me pergunta superior 
Se ainda há decência neste mundo liquidado 
Aquilo que eu acho e que a paz ficou de férias 
E o superior e um moço disfarçado 

Aparece um que me pergunta destruído 
Se há hipóteses de ficar muito pior 
Vou convidá-lo a jantar fora com a criança 
É bem provável que ele assim fique melhor 

Aparece um que me pergunta distraído 
Se é aqui que mora a ilha do Faial 
Quando for noite vou contar esta aos amigos 
Que dão respostas com sorrisos de água e sal 

Aparece um que me pergunta a meia voz 
Como é possível que das pedras saia vinho 
E como isto lhe faz muita confusão 
Ainda pergunta se não estou muito sozinho... 

Apareceu um que não me fez qualquer pergunta 
De olhos tão grandes que até parecia cego 
Falou comigo uma vez... só uma vez 
Para dizer que o nome dele... era sossego