Não posso esquecer o ronco maldito Da camionete branca que eu nem vi chegar Tendeu da cachorrada festejando à volta Em qualquer fim de tarde sem me avisar Coração ferido cortado de esporas Cercado de lembranças de rédeas no chão Aqui nessa cabana tudo é saudade O peão foi domado pela tal de paixão Vou vender a fazenda, não quero mais saber Mudar para bem longe, pra outro país Eu vou vender meu gado, até os cavalos Se não posso ter nos braços quem eu sempre quis O pé de pinheiro que escreveu meu nome Eu mandei derrubar e fiz uma fogueira As chamas se propagam, mas a dor não passa Enxergo o seu rosto em meio à fumaça Lembranças que ficaram da última vez Me amou e ainda fez eu acreditar A camionete branca cruzou o mata-burro Pra se perder no mundo e nunca mais voltar Me para um carro que vinha ali do meu lado Eu já tinha reparado pelo espelho lateral Gente importante notei que ali transitava Li nas iniciais da placa, doutor fulano de tal Baixou o vidro achando que eu era tosco Fazendo aquele alvoroço, música brega indecente Onde se viu sujando o asfalto de barro Coisa de peão relaxado, grosso e pouco inteligente Mal sabia o cidadão que o meu patrimônio é grande Estocado no porto seco de cuiabá e campo grande Na exportação de grãos, domino e não tenho sócio Sou caboclo conhecido, doutor do agronegócio Abrindo a porta mostrei o bico da bota Levando o olho se nota, suja de bosta de vaca tá na guaiaca o poder que me da o direito Pois não é nenhum defeito ser guasca e andar de bombacha Além do mais doutor, já faz mais muitos anos Que charolês, red ângus compõe meu lote de gado Sobra os trocados que de quatro em quatro anos Por farra vou financiando campanha de deputado Mal sabia o cidadão que o meu patrimônio é grande Estocado no porto seco de Cuiabá e campo grande Na exportação de grãos, domino e não tenho sócio Sou caboclo conhecido, doutor do agronegócio