Certa vez, foi á noitinha O Chico do cachené Chamou-me e disse, Farinha Vou contar-te a vida minha Para saberes como é Bem criado e malfadado Os meus pais, tinham de seu Por eles era adorado Instruído e educado Cheguei a andar no liceu Eu era menino e moço Simples como uma donzela Mas um dia, que alvoroço Passei à Rua do Poço Vi a Micas, gostei dela Vivi com ela dez anos Duas vezes lhe puz casa Mas os seus olhos tiranos Vadios como dois ciganos Fugiram, bateram asa Hoje não tenho um afago Um carinho, uma afeição Sou um esquecido mal pago E é no vinho que eu apago O fogo deste paixão Depois de contar-me a vida O Chico pôs-se de pé Pediu mais uma bebida E uma lágrima atrevida Caiu-lhe no cachené