Fernanda Abreu

Sou da Cidade

Fernanda Abreu


SOU DA CIDADE
SOU DA CIDADE, MEU IRMÃO 

Levanto cedo
sonhando acordado
com o pé direito
tô queimando no asfalto 

Tô sem trabalho
Descendo a ladeira
tô de bobeira
só não posso dar bandeira 

Eu tô na pilha
aí sempre ligado
tô na vigilia
tô contigo, eu não abro 

Se eu to na rua
Tem gente do meu lado
fica na tua
que é melhor ficar calado 

Se eu tô em casa
no corredor, na sala
fujo da mira
aqui só tem bala perdida 

Se chega a noite
só saio protegido
não tem mandinga
o amuleto é minha ginga 

Dentro do carro
de oculos escuros
passo batido
não me pede que eu tô duro 

Chiclete, fruta
mendigo , prostituta
cada sinal
cada ponto uma disputa 

Sao Paulo, Osaka
Seul, Pequim
Rio ou Jacarta
E Bombaim
Tudo é cidade
É tudo igual 
Em qualquer lingua
Isso é geral 

DA JANELA VEJO A CIDADE ABERTA
INFINITA VISAO
SUAS RUAS, CURVAS, E FORMAS TAO DURAS
PULSA O MEU CORAÇAO 

DA JANELA VEJO A CIDADE ALERTA
TAO INJUSTA VISAO
NAS CALÇADAS, PONTES, ESQUINAS, MARQUISES
PULSA O MEU CORAÇAO 

Tudo é cidade
É tudo igual
Em qualquer lingua 
Isso é geral 

SOU DA CIDADE, MEU IRMAO 

Alto do morro
de um prédio, um edifício
pra ver estrelas
solto fogos de artificio 

Adrenalina
virando aquela esquina
tô amarrado
sonho de concreto armado 

Código urbano
feito tambor na mata
é tudo igual
em qualquer lugar do mapa 

Isso é a vida
é a natureza humana
não tem saída
é a natureza urbana